Disposto a quebrar o tabu da folha de coca, o boliviano Luis Quispe cria obras de arte em que utiliza a planta para brincar com os rostos de suas telas e reforçar o conceito de identidade boliviana.
O autor, que já fez mais de 300 obras com a folha de coca, usa uma técnica que consiste em colar as folhas sobre uma tela para brincar com os rostos de pessoas.
Segundo o artista, essa colagem “reflete a vida dos bolivianos”, já que cada rosto representa os duros desafios a serem superados pelos indígenas e mineiros, coletivos que aderem à folha para ganhar “força” e continuar trabalhando.
“Seus olhos pareciam gravuras para mim, pois dá para ver o sofrimento e a fadiga do trabalho que fazem”.
O primeiro retrato que o artista “pintou” com essa técnica foi o do guerrilheiro argentino-cubano Ernesto Che Guevara. A obra, feita em 2012, foi comprada pela embaixadora da Venezuela na Bolívia.
“O presidente Evo Morales apareceu em uma reunião com a embaixadora da Venezuela na televisão e vi minha obra pendurada no fundo, fiquei muito orgulhoso”, afirmou Quispe.
O artista cobra entre US$ 100 e US$ 2.000 por cada quadro, de acordo com “o simbolismo” de cada tela.
Ao lado de Peru e Colômbia, a Bolívia é um dos três principais produtores mundiais de folha de coca, planta que contém o alcaloide base para a elaboração de seu derivado ilegal, a cocaína.
Na Bolívia, a planta tem usos culturais ancestrais, como a aplicação medicinal, e também é utilizada em indústrias de alimentos, bebidas e cosméticos, mas uma alta porcentagem do cultivo é desviada para o tráfico de drogas.
A ONU reconheceu em 2013 a tradição de mascar “acullicu”, na Bolívia, embora a folha de coca continue sendo controlada pelas Nações Unidas.
Fonte: Exame/Efe/Yolanda Salazarhttp://exame.abril.com.br/estilo-de-vida/noticias/com-inovacao-boliviano-usa-folha-de-coca-em-obras-de-arte